As imagens reunidas na exposição Mulheres de Visão, agora em sua segunda edição, iluminam a poética visual de 17 artistas que configuram em suas obras os inumeráveis caminhos da fotografia contemporânea. Mais do que elaborar algo previsível, temos aqui um resultado plástico indeterminado, que se reforce para revelar percepções delicadas, agudas, sensíveis como matéria prima do saber.

Por isso, uma abordagem fotográfica não se esgota em si mesma, se pensarmos que a representação do universo feminino surge dotado de um sentimento político de resistência. Tudo isso moldado nas imagens produzidas sobre grupos minoritários, cuja invisibilidade sabidamente é recorrente no contexto histórico-social brasileiro, como no caso das artistas Nana Moraes e Maria Eugênia Nabuco, que se aproximam das contradições sociais no afã de garantir aos sujeitos o direito de existir. A preocupação em acentuar valores simbólicos também se revela à medida que as autoras indagam sobre a cultura oriental, os jogos da vida doméstica, o excesso desenfreado do consumo e a pungente ligação da mulher com a mãe-terra. É verdade que o repertório fotográfico traz ainda formulações espaciais ligadas aos objetos do cotidiano, ou mesmo a um cromatismo dinâmico, que ganham transcendência ao brincarem com nossa imaginação.

Essa exposição traz também um questionamento sobre o estatuto frágil da linguagem articulada pela colagem, que esgarçada ao meio tanto permite agregar fragmentos apropriados da própria realidade, como também multiplicar um desvario de sentidos em situações de confronto com o espaço empírico. Nem é preciso dizer que esta técnica, ate então nova em 1920, perpassou um vasto campo experimental que vai da pintura, ao cinema, à fotomontagem e aos readymades duchampianos.

Finalmente, as obras videográficas estabelecem, de maneira substantiva, uma dinâmica visual no deseio explícito de pôr à vista conexões existenciais que devem ser consideradas em nossareflexão sobre a condição feminina. São artistas que tocam a estrutura das coisas, aqueles pilares invisíveis, que se constituem imbuídos do frescor de suas interpretações.

Angela Magalhães Nadia Peregrino

Curadoras e Pesquisadoras Associadas